segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Menos Documentario, mais comédia.


O mundo seria muito melhor se a vida fosse uma comédia romântica, as coisas seriam mais fáceis para os desastrados, os feios, os engraçados – que são quase sempre a mesma pessoa. Afinal de contas eles são os que ficam com os melhores pares. Cair, tropeçar, esbarrar, derrubar as coisas é um dos pré-requisitos para se dar bem... nos filmes. Os feios são os mocinhos e os bonitos são os vilões.
Nas comédias românticas o homem pode puxar conversa com a mulher e ela retribui, melhor ainda, as vezes são elas que puxam conversa. Qualquer fila, café, ônibus, avião, basta para que alguma coisa aconteça. Na vida real se um desengonçado puxa conversa com uma estranha o máximo que acontece é ela dar aquela olhada que vale mais que mil palavras, de desprezo.
Na vida real você faz alguma besteira e é punido severamente. Na comédia romântica também acontece deslizes, mas eles são perdoados e vida segue como se nada tivesse acontecido.
Nas comédias românticas quando está chovendo as pessoas não correm pra debaixo das marquises e quase furam seu olho com um guarda-chuva, elas andam, se beijam, cantam, sem se preocupar com uma possível gripe. Na vida real nem cachorro toma banho de chuva.
Esse gênero onde até os voos sempre saem na hora certa, o que no caso é ruim, já que obriga o protagonista ter que sempre estar correndo pra não deixar o seu amor escapar. Nesse quesito o mundo real teria uma vantagem, já que os voos sempre atrasam, ela ia ficar tanto tempo na sala de embarque que ia pensar melhor e perceber que talvez devesse ficar e dar mais uma chance. Alias acho que não, porque se uma mulher está fugindo de você de avião, é porque aconteceu alguma coisa muito grave.
Um mundo onde ninguém tem medo de expressar o sentimento, onde um nerd pode surpreender a todos, fazendo um discurso envolvente, em frente a milhares de pessoas como se fosse uma coisa normal. No mundo real o que mais se aproxima disso são os carros de som, com um locutor meia boca, que as pessoas não param pra ouvir o discurso, mas sim para rir.
Enfim acho que deveríamos lutar por uma vida com mais cara de comédia romântica e menos cara de documentário.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Desculpa o atraso


Qual foi o momento que ficou decidido que é normal chegar atrasado? Quando foi que ser pontual deixou de ser bom. Porque hoje em dia ninguém mais é. A prova disso é que marcamos hora com margem de erro, “lá pelas dez, dez e meia. E eu posso chegar atrasado”. Hoje em dia você é mal visto por chegar no horário. É feio ser o primeiro a chegar. Está fora de moda chegar antes do que todos.
“Falei pra você que deveríamos ter enrolado mais Antonio Carlos, olha aí. Fomos os primeiros a chegar. O que vão pensar que nós somos? Vamos ficar lá fora escondido, quando chegar alguém a gente entra.”.
Antigamente os únicos atrasos aceitáveis eram: das noivas, das mulheres no primeiro encontro e da menstruação. Se você chegasse atrasado teria que ter um bom motivo ou inventar uma boa desculpa. Quando percebia que estava atrasado, já ia imaginado o que ia dizer.
“Você não vai acreditar no que eu vou falar, mas quando eu tava vindo pra cá, sai até mais cedo pra chegar antes, mas uma mulher dentro do ônibus entrou em trabalho de parto, ninguém sabia o que fazer eu tive que intervir, como já tinha assistido alguns partos no Discovery achei que conseguiria ajudar, tudo bem que os partos eram de capivaras, mas é praticamente a mesma coisa, ocorreu tudo bem, foram duas horas de parto, eu falei para o motorista não parar porque eu não poderia me atrasar, mas ele disse que tinha que parar porque ele era o pai. Então foi por isso que eu cheguei atrasado.”.
Hoje em dia se estamos atrasados pensamos, ‘ainda bem que ele também vai chegar atrasado’.
Acho que um pouco é culpa da tecnologia. Porque antes quando a pessoa estava atrasada, nós sabíamos, olhávamos para o relógio a cada dois segundos. Cada pessoa que apontava na esquina acendia uma chama de esperança que fosse que estávamos esperando.
O que eu queria dizer é que... E caramba, olha a hora, estou atrasado para encontrar uma pessoa, melhor eu correr. Ainda bem que ela também vai chegar atrasada.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Criança Feliz


Qual é o momento que uma criança deixa de ser criança?
A ironia esta no fato de que: quando você era criança queria ser adulto, agora que é adulto queria voltar a ser criança. Porque quando você é uma criança não tem muitas responsabilidades, nossas maiores responsabilidades era passar de ano e pegar todo mundo no esconde-esconde.
Quando você é criança não pode dormir tarde, comer sobremesa antes da refeição e tem que tomar banho todos os dias. Depois de adulto você pode fazer tudo isso, mas dormir tarde não tem mais a mesma graça, a sobremesa não é tão doce e o banho ainda continua sendo obrigação.
Quando adulto você percebe que quanto mais velho você fica menos amigos você tem. Quando você é criança, qualquer um pode ser seu amigo, basta ter uma coisa em comum e vira seu melhor amigo.
“mãe, esse é o Paulinho, meu melhor amigo!”
“Mas e o Caio?”
“O Caio também é meu melhor amigo!”
Por isso nossos pais falavam pra não aceitarmos doce de estranho, porque se uma pessoa nos desse doce, viraria logo o melhor amigo de todos.
Quando você era criança todo mundo dava dinheiro, só por você ser criança. Fora que o dinheiro valia muito mais. Com cinco reais você era feliz. Depois de adulto ninguém te da dinheiro do nada. Você tem que fazer por merecer. Tem que trabalhar. Ralar. Você não tem mais aquele tio bêbado que enfiava a mão no bolso, tirava o dinheiro todo amassado e te dava só pra te ver sair se mostrando, sorrindo se achando rico com uma nota de dez reais. Churrasco de família era o décimo terceiro da criança. Nós fazíamos contas contando com o dinheiro que ganharíamos no churrasco.
Tenho inveja das crianças, elas sim têm liberdade. Podem fazer o que quiser sem se preocupar com o que os outros vão dizer, pulam, gritam, se sujam, e não ligam se alguém está reparando. Só se preocupam, um pouco, se a mãe vai brigar, mas mesmo assim continuam porque o máximo que pode acontecer é ela brigar. Ta aí! Acho que uma criança deixa de ser criança quando deixa de fazer algo por se importar com o que vão dizer.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Diz que eu mandei um abraço


Quantas vezes você já entregou um abraço que mandaram por você? Imagina quantos abraços, beijos, alos, salves, etc. foram esquecidos de ser entregue.
Porque é assim que funciona, sempre que nos encontramos com alguém que faz nos lembrar dum outro alguém, pedimos que faça a entrega da encomenda intangível, “manda um abraço pra ele”, “manda um beijo pra ela”, “diz que eu mandei um alo”. Fazemos o pedido, endereçado a pessoa sem saber se realmente ela vai receber. Não temos um “pós-vendas” para esse tipo de entrega.
- Alo, quem fala? Rafael tudo bem, aqui é da empresa ‘MEUS CUMPRIMENTOS’, gostaria de saber se o senhor recebeu o abraço que o Dr. Paulo enviou pelo senhor Anderson? Ah, não? Então, ele mandou dizer que está mandando um abraço e que é para o senhor aparecer tomar um café.
Não existe uma empresa que preste esse tipo de serviço. É tudo na base da confiança. Não é como os correios que sabemos que com certeza a encomenda chegará.
Mas nem por isso devemos parar de enviar esses cumprimentos. Porque é uma grata surpresa quando estamos conversando e do nada alguém fala: “Ah, tava esquecendo, fulano mandou um abraço pra você”.
Por isso se enviarem um abraço, um beijo, um alo e principalmente dinheiro, para mim, favor não se esquecer de entregar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Atrasado


Ele abre os olhos, vira para o relógio, que está no criado mudo colado com o travesseiro, fecha os olhos lentamente, então abre mais uma vez, mais uma olhada, fecha de novo.
- 11 horas. – Fala pra ele mesmo. Ainda de olhos fechados.
Arregala os olhos como alguém que acaba de descobrir algo muito importante.
- Cacete, 11 horas, o relógio não despertou.
Pula da cama, pega a calça que está no chão começa a vestir, então se lembra que ainda esta de pijamas, tira a calça, pensa: “porque as bocas das calças se afunilaram tanto”, enquanto sofre pra tirar a da perna direita. Finalmente consegue então arranca o pijama como um desses mágicos com roupa de velcro. Volta a colocar as calças ‘skini’, da moda. Preferia quando as calças boca de sino estavam na moda. Coloca a camisa.
- O que eu vou falar? O que eu vou falar? Transito não, já usei semana passada, morte, também semana passada, doença, também semana passada. Tenho que parar de chegar atrasado.
Vai direto para o banheiro, pega a escova de dente, coloca um tanto de pasta de dentes que daria para escovar os dentes de um tubarão branco, mete a escova na boca, com uma mão escova os dentes, com a outra penteia o cabelo. Termina o cabelo e a boca. Enxagua a boca, o rosto e sem querer o peito. Corre trocar de camisa.
- Já sei vou falar que bati o carro. Mas se bem que não tem amassado. Vou ter que bater o carro no caminho.
Corre pra cozinha, coloca a agua pra ferver, enquanto vai dando os últimos retoques, ajeita a calça, ajeita o cinto, vai ajeitar a gravata, não está de gravata.
- A gravata.
Corre para o quarto, começa a procurar a gravata.
- Cade a gravata.
Vai jogando as roupas pra cima como num truque do circo de solei. “nada aqui, nada aqui, nada aqui”.
- Amor cadê minha gravata.
- Qual?
- Qualquer uma.
- Não sei.
Pela primeira vez, desde que ele acordou ele para, para olhar pra ela, que não se da ao trabalho nem de olhar para ele. Na cozinha a chaleira apita, tirando-o do transe. Ele volta a procurar.
- Meu Deus cade as minhas gravatas?
- Pra que gravata?
- Pra me enforcar!
- Estão no armário de roupas pra dobrar.
Ele corre até lá. Enfia a mão. Pega a primeira gravata que encontra. É a amarela mostarda. Vai essa mesmo. Começa a dar o nó enquanto se dirige para a cozinha. Desliga a chaleira. Procura o filtro. Nada.
- Tenho que comprar uma cafeteira.
Desiste de procurar. Desiste do café. Volta para o quarto.
- Como eu bati? Como eu bati?
Enfia os papeis que estão jogado na mesa do computador pra dentro da bolsa.
- Como você bateu o que?
- O relógio não despertou, estou atrasado, o Miranda disse que se eu chegasse mais uma vez atrasado seria mandado embora. Vou ter que bater o carro.
- Como assim atrasado? Hoje é feriado.
Ele para de enfiar os papeis na bolsa. E novamente olha para ela. Que dessa vez pelo menos está olhando para ele.
- Feriado?
Ela só balança a cabeça, dizendo que sim, com um sorriso no rosto. Ele solta os papeis. Vai em direção a cama, já afrouxando a gravata. Senta na cama, tira o sapato e percebe que estava indo com um pé de meia diferente do outro. Tira a camisa e a calça, dessa vez sem sofrimento. Deita. Encosta a cabeça no travesseiro. Fecha os olhos.
- Temos que comprar uma cafeteira.