Os três reis magos chegam para entregar os presentes pra Jesus.
- tem certeza que é aqui?
- sim, e pra onde estava apontando a estrela.
- não sei, não confio nessas estrelas, prefiro o GPS.
- mas no meu não tem sinal no deserto.
- ok, não vamos discutir isso. De novo.
Eles vão entrando na casa.
- será que ele vai gostar do meu presente?
- o que você trouxe?
- incenso. E você?
- mirra.
- mirra?
- mirra?
- é, mirra.
- mas é uma criança.
- e o que é que tem?
- porra, vai dar mirra pra uma criança?
- e incenso? Ele é filho de Deus, não de Buda.
- mas é pra tirar o mal olhado.
- e você Baltazar, o que trouxe?
- ouro.
- ouro?
- ouro?
- é.
- porra!
- o quê?
- nossos presentes já eram bostas, agora piorou.
- ta mas eu não tenho culpa. Ninguém estipulou um valor, um teto.
- tem sim.
Os dois balançam a cabeça negativamente.
- puxa saco do cacete.
Os dois entram e deixam Baltazar falando sozinho.
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
POSSIVEIS AMIGOS SECRETOS
Amigo secreto segundo Conan Doyle
- O meu amigo secreto é homem, tem
cabelos...
- O seu amigo secreto é o Watson.
- É.
- Porra! Sherlock Holmes, depois não
sabe porque ninguém te chama para o amigo secreto.
Amigo secreto no hospício.
- O meu amigo secreto é alto, tem mais
ou menos quatro metros de altura, pouco cabelo, dentes grandes e rabo peludo.
Alguns residentes estão passando e
veem a cena.
- O que ele está fazendo?
- Revelando o amigo secreto com os
amigos imaginários.
Abre a cena o homem está gesticulando
sozinho.
Amigo secreto na ordem dos advogados
- O meu amigo secreto é uma mulher, é
loira.
- Protesto!
- Deixa ele terminar.
- Achou ruim me processe.
Amigo secreto do AA
- O meu amigo secreto teve problemas
com bebida.
Amigo secreto dos stripers
Recebe o presente, então começam os
gritos.
- Tiraaaa, tiraaaa, tiraaaa...
Amigo secreto no asilo
- A minha amiga secreta é a... é a...
é a...
- Fala logo Mirtes.
- Fala logo o quê?
- Quem é a sua amiga secreta.
- Que amiga secreta?
- Porra falei que não era uma boa
ideia a Mirtes participar, esse Alzhaimer.
Amigo secreto dos políticos
- O meu amigo secreto é alguém do
povo, honesto, de caráter.
- Ok deputado, chega de brincadeira
agora volta a falar de quem está participando.
- Desculpa.
Amigo secreto dos psicanalistas
- O meu amigo secreto é homem, um
pessoa boa, responsável e atenciosa.
- Fale-nos mais sobre esse tal “amigo
secreto”.
- Acho que essa pessoa que ele
descreve é uma representação do que ele queria que o pai dele tivesse sido.
Amigo secreto dos filósofos
- Amigo secreto, o que é o secreto no
mundo onde temos a internet e nada mais é secreto, tudo é não-secreto, podemos
até indiscreto e amigo, o que realmente quer dizer amigo, alguém que está do
seu lado a sempre ou alguém que está sempre do seu lado?, Platão já dizia,
amigo é amigo e filho da puta é filho da puta.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
TODO NATAL TINHA
Toda festa de
natal tinha:
Uma tia que
dava meia
Um tio bêbado
engraçado
Uva passa em
todos os pratos da ceia.
Parente
mal-humorado.
Uma criança
que só chorava.
Uma tia com
cara de puta
Uma mãe que
só gritava.
Arroz,
rabanada e fruta.
Briga sem
explicação
Com dedo na
cara, troca de ofensa e empurrão.
Mas dava meia
noite então vinha a reconciliação
amigo secreto
indiscreto
oculto
tudo com
presente fajuto
um tio que se
vestia de papai Noel
com fantasia
ruim
tênis e barba
descolando.
Mas enfim era
natal e ninguém estava ligando.
Isso é o que
tinha
Hoje não tem
mais
Mataram o
espirito natalino
Nem no natal
ele não aparece mais.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Esquecer tudo
Já pensou
esquecer tudo?
Uma certa manhã acordar,
olhar para o lado e não reconhecer quem é a pessoa descabelada, com os olhos
cheios de ramela, que está ao seu lado, não se lembra como foi parar naquela
cama, alias não se lembra da cama, nem do quarto, nem da casa. Nada.
Esquecer tudo.
Esquecer as
coisas ruins e boas, joio e trigo.
Esquecer o que
aprendeu na escola, não que precise de uma amnesia para isso, já que, já não
lembra de quase nada.
Esquecer quem
são seus amigos e inimigos, em quem confiar e de quem desconfiar.
Esquecer as
senhas, as varias senhas que vive esquecendo, a do banco, das redes sociais,
dos emails, etc.
Esquecer as
datas de aniversários de pessoas, pra esse problema ainda teria as redes
sociais para ajudar, mas você não lembra da sua senha, esqueceu?
Esquecer as
magoas, pessoas que nos fizeram mal, amores que machucaram. Essa seria uma
coisa boa. Isso temos que esquecer.
Esquecer a
primeira bicicleta, o primeiro beijo, a primeira namorada, a primeira bebedeira
para esquecer a primeira namorada, esquecer a primeira tudo.
Esquecer as
primeiras, segundas, terceiras, quartas e até ultimas.
Esquecer até do
que estava lembrando que não podia esquecer.
Esquecer quem é
você. Afinal você é uma pessoa em construção, cada memória é um tijolo, perder
a memória seria como se passasse um furacão, levasse todos esses tijolos e
deixasse só a estrutura, a carcaça vazia.
Não vivemos de
passado, mas é ele quem está nos empurrando para o futuro.
Não que sem ele
não teríamos futuro, sim teríamos, alias só o que nos restaria seria o futuro,
mas complicaria o futuro, teria que viver o passado, aprender sobre coisas do
passado no futuro.
Todos nós estamos
sujeitos a passar por isso, qualquer um pode acordar com a cabeça oca.
Acho que para
prevenir esse tipo de coisa poderia existir um back-up de memorias, para o caso
de acordarmos com o console zerado poder conectar um USB e passar tudo para lá
de novo. Mas por enquanto isso é só uma idéia, enquanto isso não acontece vamos
valorizar pelo que já passamos, não viver de passado, mas sim lembrar-se sempre
das lembranças.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Ta na ponta da lingua
Quantas
vezes no meio de uma conversa sobre filme, você ficou tentando lembrar o nome
daquele ator famoso e não lembrava o nome dele, aquele que fez aquele filme,
como que é o nome mesmo. Ou num papo de musica, você ficou cantarolando uma
melodia sem letra, um “na na na”, que ninguém entende, fazendo papel de ridículo
para tentar lembrar da tal musica. Ou o nome de fulano que estudou com vocês na
quinta série, o que casou com a Claudia, você lembra com quem ele casou, onde
mora, qual carro tem, a idade, mas não consegue lembrar o nome do desinfeliz. Não
da a impressão que a nossa memória faz isso pra sacanear. É o verdadeiro jogo
da memória.
A nossa
memoria é sádica, ela te deixa na mão quando você mais precisa. Ela como um
filho adolescente irresponsável, some sem dar satisfação. Além de gostar de
fazer charme. Raramente sai de uma vez,
quer ficar desfilando na ponta da língua. “não fala, não fala, ta na ponta da língua”.
É uma vacilada e você engole. Ela não sai assim direto. Quer uma preliminar, um
carinho na testa, um aperto na nuca, quer que você massageie as temporas, então
quando ela acha que você merece, ela desbloqueia. Sempre temos a mesma reação,
a era isso, como se disséssemos para a nossa memória: poxa, eu sabia, não era difícil.
Só que o problema é que quando ela te lembra já tarde demais. A prova já acabou,
a pessoa que você estava conversando já foi embora, o aniversário de casamento
já passou. Então fica você lá, com a cabeça e a boca cheia de memorias inúteis.
E pior com a letra da musica que você estava tentando lembrar tocando na sua
mente, no ultimo volume, porque a sádica gosta de ouvir som alto.
sábado, 31 de agosto de 2013
Perigo: tios em extinção
Hoje vendo as fotos de família cheguei a uma conclusão, daqui
uns tempos não teremos mais tios e tias.
Não é que não teremos mais tios e tias, isso ainda vai
ter, mas não teremos mais as figuras caricatas que marcaram o que é um TIO e
uma TIA.
Porque existe, por não sei quanto tempo, uma padronização
dessas figuras. Repare, toda família tem um tio bêbado. Aquele que quando bebia
dava dinheiro para os sobrinhos. Ele são, é um, bêbado é outro. Tipo Bayne e o
Hulk. A bebida transformava ele no Silvio Santos. Muda da agua para o vinho,
por causa do vinho. Toda família tem também o tio que fuma e toma café. O café
sempre acompanha o cigarro e o cigarro sempre acompanha o café. Não importa a
hora ou onde, ele sempre está fumando e bebendo café. Ele anda com uma carteira
de cigarros num bolso e uma garrafa de café no outro. Tem o tio chato, ele é
velho desde que você era criança. Ia na casa dele, ficava na sala, mas não
podia assistir televisão. Tinha que ficar na sala com a televisão ligada. Todo
mundo tem uma tia que se acha menininha. Uma tia muito crente, uma tia muito católica.
A família é de espirita, tem a tia crente e a católica fervorosa. Existe outros
tipos de tios e tias que todos nós temos em comum, mas infelizmente, assim como
a família em si, essas tias e esses tios estão entrando em extinção.
A um tempo atrás, se seu nome era, Cida, Vera, Zé,
Claudio, você já nascia tio.
Não estão mais sendo produzidos tios e tias como
antigamente, estamos numa queda de tias Veras e tios Zé. Não nos vejo sendo
eles. Quero dizer, não sei como isso acontece, se você vira um tio Zé, uma tia
Vera, ou se já nasce sendo eles. Não sei se tem uma idade da transformação. Um
dia você está normal, no outro começa a tomar café, fumar e contar piadas
velhas de salão nos churrascos, um dia você é uma menina normal, no outro sua
unha está maior do que a do Zé do Caixão, pintada de vermelho e usando salto.
Realmente não sei, mas se já é de berço, não vejo muito futuro para eles. E
isso é triste, porque os nossos filhos, netos, bisnetos não vão ter contato com
essas figuras, só vão conhecer por histórias ou por fotos. No futuro não
existiram mais tias Veras, Cidas, tio Zés, Jorges, Claudios.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Beliche
Nunca mais vi um beliche. Lembra
dos beliches? Aquela cama colocada em cima da outra. O beliche era um retrato do que era
a família. Hoje em dia ninguém mais compra beliche, por três motivos. Um,
porque é feio, dois, porque ele gerava muita discussão pra decidir quem ficaria
em cima e quem ficaria embaixo. “você se mexe demais, não pode dormir em cima” “e
você mija na cama”. Ah, a briga pelo topo do beliche. E três porque não tem
espaço para colocar o beliche. Todo mundo tem um primo que já caiu de cabeça de
cima do beliche.
Junto com a extinção do
beliche, estão sendo extintas as famílias. Porque o espaço está diminuindo. Os apartamentos
de hoje em dia estão cada vez menores e mais caros, da pra chamar eles de
kinder ovo.
Antigamente tinha espaço
para colocar três, quatro filhos, mais o cunhado, e outros parentes que
apareciam. Hoje dia não, os apartamentos são: sala, quarto, cozinha e banheiro.
Tudo isso no mesmo comodo.
As novas famílias não têm
onde acomodar os filhos, por isso existe tantos métodos contraceptivos, não é
porque as pessoas não querem ter filhos, mas sim porque não tem lugar. Isso é
um fato, para pra pensar, nossos avós, eles não ligavam, tinham oito, dez, doze
filhos, mas é porque eles tinham espaço. Lembra a casa dos seus avós, era
grande, você podia se perder, dava medo de andar pelos corredores, medo de
encontrar algum fantasma. Nos apartamentos de hoje não tem fantasma, não pra
ele. Ou fica você ou o fantasma.
A situação está feia, na
china já foi limitado o numero de filhos, por causa do espaço, nas grandes metrópoles
já teve uma queda de natalidade, pessoas com três filhos já estão sendo
discriminadas, estamos sofrendo a pressão pra não sermos pais, daqui uns dias
você vai ter que comprar teste de gravides escondido, a policia vai prender
quem transar sem camisinha.
Já foi muito discutindo
como o mundo iria acabar se em agua, fogo, gelo, e na situação que está, acho que
o mundo vai acabar em kitnets.
E daqui uns tempos você só
vai conseguir encontrar beliches nas cadeias ou no museu.
No museu:
- mãe o que é aquela cama
em cima da outra, arte moderna?
- Não filho, aquilo é um beliche.
- Boliche?
- Não, beliche. É onde
seus avós e os irmãos deles dormiam.
- Nossa, credo.
- O que filha? Era normal,
era seguro dormir no beliche.
- Não, falei credo para os
irmãos. Deus me livre.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
A verdadeira história do descobrimento
- Terra a vista.
Pedro alvares Cabral desembarca no Brasil, que
ainda não tinha esse nome, então enche os pulmões e fala:
- Ora pois... Ligue para o meu pai e diga que
eu descobri um lugar. Agora é meu.
Alguns índios estão em volta dele.
Um dos funcionário de Pedro da uma pigarreada.
- Mas Pedro, já tem gente nele.
- Onde?
Aponta para os índios.
- Ah, não, eles devem ser os animais locais.
- Ei.
- Não, são gente.
- Tem certeza?
- Sim.
- Tem certeza, eles não parecem gente.
- Ei, nós entendemos o que você fala. – retruca
um dos índios.
- Entendem?
- Sim.
- Então, ta ok então. Eu. Queria. Dizer. Que.
Vocês. São. Bem vindos.
- Já falei que entendemos o que você está
falando, não precisa falar desse jeito.
- Ta. Bom.
Silencio.
- Você não descobriu nada. Nós descobrimos.
- Onde está escrito?
- Escrito o que?
- Que vocês descobriram.
- Não está escrito em lugar nenhum, nós estamos
aqui, não precisa estar escrito.
- Precisa sim, a escritura ta em meu nome.
- Escritura?
Um homem vem correndo e entrega a escritura
para Pedro Alvares Cabral.
- Escritura. Atestado de que no dia 22 de abril
de 1500, Pedro Alvares Cabral pisou em terras até então não conhecidas.
- Pera aí, até então não conhecida como? Nós já
estamos aqui. E hoje não é 22 de abril de 1500, é 18 de setembro, de 1100.
- Eu não vi nada quando eu cheguei, alguém aqui
viu?
Olha para tripulação que faz que não com a
cabeça.
- Olha aí.
- Mas olha ali já tem nossas casas ali para
provar.
- Aquilo não é bem uma casa, é mais uma oca,
uma cabana, uma coisa meio de sem terra, você pode muito bem montar aqui em uma
hora.
- Ei!
- O negócio é o seguinte.
Pedro se aproxima do índio, que provavelmente é
o pajé da tribo, passa o braço em volta do ombro dele e vai caminhando com ele.
- Então, o que eu posso fazer por você, para
não te deixar na mão é: te deixar morar aqui.
- Sim, mas nós já morávamos aqui.
- Ta, eu deixo vocês continuar morando.
O pajé olha de canto de olho.
- Porém, vocês vão ter que trabalhar para mim.
- Oi?
- Terão que trabalhar servicinho leve, nada
demais, lavar, cozinhar, construir, coisa pouca.
- Mas nós não trabalhamos...
- Pois é, acabou a vida boa.
- Não mas...
- Pera aí, mas vocês não vão trabalhar de graça
não.
- Ah não?
- Não, olha para mim, sou eu Pedrão, seu amigo.
- Hum...
- Vocês vão ganhar.
Faz sinal para um de seus homens que vem
entregam o espelho e sai.
- Isso.
O pajé pega o espelho na mão e fica olhando.
- Ta, mas e o que nós vamos fazer com isso?
- Ai já vai da sua imaginação. Só sei que eu
conheço algumas pessoas que trabalhariam por uns pedaços menores do que esse.
O pajé olha para ele indignado.
- Olha sem escritura é isso que eu consigo
fazer por vocês, porque você sabe que se o fiscal bater aqui todo mundo vai em
cana. Então, tecnicamente eu estou te ajudando.
O pajé fica desanimado olhando para o espelho.
- Mas isso é só por enquanto, assim que nos
estalarmos direito vamos melhorar as condições, dar decimo terceiro, vale
refeição, férias remuneradas.
O pajé meneia a cabeça, Pedro abre um sorriso e
vai em direção a tripulação.
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Acabou a luz
Esses dias acabou a luz na minha casa e eu fiquei sem saber como reagir. Fiquei sentado no escuro, parado, com o controle na mão, esperando que tivesse sido um apagão e ja voltaria. Não voltou. Somos dependentes da luz. Somos a geração ligada
na tomada. Nós somos movidos por aparelhos eletrônicos, usamos o computador para nos comunicar, abrimos a geladeira
para pensar, ligamos a televisão para dormir. Não conseguiríamos viver como
nossos ancestrais. Alias não sei como eles conseguiram viver sem luz, como
faziam pipoca para assistir filmes sem micro-ondas.
Estamos muito mimados. Quando
eu era criança era normal acabar a luz – é impressionante como a luz sempre
acabava a noite, ela tinha o dia inteiro, parece que era por querer, sempre à
noite. Pelo menos duas vezes por mês acabava a luz, não só na minha casa, na
rua inteira – exclusivamente na minha casa só quando não pagávamos a conta, mas
tirando essas vezes, era na rua inteira. Existia uma espécie de rodizio, cada
vez acabava numa rua, na minha era geralmente numa terça. Quando acabava havia
duas reações ou ir dormir ou ir para frente de casa bater papo com os vizinhos.
Todo mundo da rua ia para frente de casa, numa espécie de reunião, especular o
que haveria acontecido dessa vez quase nunca se chegava a uma conclusão, mas o
bate-papo era bom. Sempre tinha um vizinho que perguntava: “acabou na sua
também?”, dava vontade de responder: “não, mas eu desliguei para poder vir
conversar com vocês aqui fora”.
Lá dentro de casa a mãe desatinava a procurar velas, é
impressionante como casa de pobre sempre tem velas. Rico tem lanterna,
acendedor, luz de emergência, pobre tem vela, velas de aniversários passados,
vela de sete dias, velinhas do anjinho da guarda. Essa ultima era a mais usada.
O anjinho da guarda é o anjo da falta de luz, acabava os pobres acendiam as
velas dele. Encontrada a vela, depois de bater setenta e duas vezes o dedo em
alguma quina da casa, porque elas se multiplicam no escuro, elas se movem para
serem chutadas. Tinha a parte mais difícil, encontrar a caixa de fosforo. Se durante
o dia já é difícil, imagine à noite, sem luz e na hora do aperto, era pior
ainda. Segundo pesquisas – feitas por mim – a caixa de fosforo está entre as coisas
que mais somem, numa lista que inclui meia, tampa de caneta e palheta. Alias
acho que quem inventou o acendedor elétrico do fogão foi um cara que se
revoltou com o fosforo. Quando finalmente encontrava acendia-se as velas do
anjinho da guarda, pingava num pratinho e deixava um em cada comodo da sala. Isso
quando tinha tantas velas, quando não tinha, ficava um revezamento de vela.
A cada passada pelo interruptor você dava um toque,
porque esquecia que tinha acabado e no fundo porque tinha esperança de que talvez
se apertasse ela voltaria.
Feito tudo isso ficava na expectativa de que a luz
poderia voltar a qualquer momento, mas ela não voltava, e quanto mais passava o
tempo menos acreditava que ainda voltaria, então aos poucos cada um ia dormir
sem saber o que teria acontecido, todos dormiam, no outro dia acordava, todas
as luzes estavam ligadas e os restos de velas espalhados pela casa. Ninguém
sabia o que fez a luz acabar, mas não ligavamos, já estávamos acostumados.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Não sonho
Tenho
inveja de quem consegue lembrar-se dos sonhos e contar com detalhes.
Invejo
as pessoas que tem aqueles sonhos loucos.
Nunca
consigo lembrar, não sei se eu não sonho, se os meus sonhos são tão sem graça
que meu cérebro prefere nem contar, se eu não tenho assistido filmes de terror
o suficiente, só sei que não tenho. Durmo e acordo, a única coisa que lembro é
de ter deitado, depois de estar acordando. Nada acontece, nenhuma aventura,
dente caindo, pessoa me perseguindo, mulher desconhecida gravida, dragão
falante. Nada. Apenas um bom sono.
O
que é ruim porque sempre que alguém fala: “nossa, você não sabe com o que eu
sonhei”, eu penso: “eu não sei nem o que eu sonhei”.
Não
sei se é a minha falta de sonho, mas eu tenho reparado que ninguém nunca sonha
uma coisa normal, ninguém sonha que está indo trabalhar, ai depois volta para
casa, assiste TV e dorme no sofá. Não. Os sonhos são sempre megalomaníaco, esta
indo trabalhar do nada aparece uma vaca, que fala, os números jogar da
mega-sena. É sempre uma coisa absurda. Talvez a pessoa nem tenha sonhado com
nada daquilo, mas o sonho te da a licença poética de aumentar o quanto quiser.
O sonho é seu, você era o único na platéia, pode inventar qualquer coisa.
Ta
ai, vou começar a inventar sonhos. Já que eu não os tenho enquanto durmo, vou
ter acordado. Não vejo a hora de encontrar a primeira pessoa pela manhã e
dizer: “você não faz idéia do com que eu sonhei...”.
terça-feira, 19 de março de 2013
Isso é um assalto!
Quem
nunca assaltado que levante as mãos. Isso é um assalto.
O assalto
é basicamente constituído por: ladrão e vitima.
Ladrão
é o cara que está com uma arma – seja ela de fogo, faca, ou nem arma apenas
algo fazendo volume na blusa, que da a impressão que seja uma arma, já é o
suficiente.
E a
vitima, que no caso é você. Ao não ser
que você que esta lendo esse texto seja um ladrão, ai você se encaixa na primeira
definição.
Fui
assaltado duas vezes em três meses. Estou começando a me acostumar. Já decorei
o passo a passo. Quando sou rendido, não estou rendido, sei o que acontecera na
sequencia. Da próxima vez que for me dado voz de assalto, antes do ladrão começar
a gritar as instruções do que devo fazer, eu já vou adiantando o que sei, para
não demorar tanto.
Depois
de ser assaltado você tenta se escorar em algo, e as pessoas sempre tentam te
mostrar o lado bom, “veja bem, você foi assaltado, mas não aconteceu nada com
você”. “São só bens materiais, logo você compra outro”. “Poderia ter sido pior”.
“Acontece, todo mundo está sujeito a isso”. E realmente são verdades, mas que
não vão mudar o fato de que você está sem o seu celular, sua carteira, seu
relógio, etc. tudo. Tudo no caso pode não ser muito, mas na hora é tudo o que
tinha.
Ser assaltado
é um misto de raiva com frustração, raiva porque está sendo assaltado, estão
levando algo que é seu, não era para estar acontecendo isso e frustração, idem.
Você trabalha compra algo que tanto queria, então vem um cara desconhecido e
toma de você. Isso frustra. Porque é uma versão adulta do que acontecia com
você na escola, quando um valentão tomava algo que era seu. Só que no caso do
assalto os brinquedos são mais caros e seu pai não vai te dar outro.
Dicas
para como reagir num assalto:
·
Num assalto nunca demonstre medo. Ao não ser
que você esteja com muito medo, ai nem o ladrão vai ligar, pode soltar a franga.
·
De tudo o que tem. Se não tiver nada peça
desculpas, talvez o ladrão se solidarize com você e divida o que conseguiu no
ultimo assalto.
·
Não faça movimentos bruscos, o ladrão não
sabe o que significa brusco, mas ele pode ser muito brusco, com a arma.
·
Não tente enganar o bandido, ele não chegou
nessa “profissão” sendo enganado.
·
Respire, isso não só quando estiver sendo
assaltado, essa é uma dica para a vida.
·
Depois que ele for embora, se desespere, grite, peça
ajuda e aumente a história, ninguém liga muito pra quem foi assaltado por um
bandido sem arma.
Ps:.
Na televisão os policiais falam para nunca reagir em um assalto, para eles é fácil
falar, eles estão armados e um ladrão nunca vai roubar eles.
terça-feira, 12 de março de 2013
Eterna discussão
ETERNA DISCUSSÃO
Deus quando criou o homem estava com preguiça, trabalhou muito na programação, por isso estava cansado no hora de fazer o corpo, então usou retas, o homem é reto, é basicamente formado por retas paralelas e uma que de vez em quando fica na vertical. Já a mulher não. Ele caprichou, já tinha a programação pronta o que poupou muito tempo, ele pode criar com calma o corpo da mulher, acordou inspirado e sem compromissos, tirou o dia para se dedicar. Se Deus é Brasileiro quando ele criou a mulher era japonês, o desingn é oriental. Ele não economizou nas curvas, as usou mais do que em qualquer obra de Oscar Niemeyer. São tantas e em tão pequenos detalhes que, precisaríamos de um mapa para explorar cada curva da mulher, teríamos que ter um GPS: “vire a primeira a direita na costela e continue descendo, passe pela barriga, de um beijo no umbigo e siga reto, a cinco centímetros pare no ilíaco e se apaixone”.
Existe mais curvas apaixonantes no corpo de uma mulher do que sonha a nossa vã filosofia. Mas desde o inicio dos tempos quando dois homens se reúnem, duas curvas sempre geram uma discussão sobre qual é a mulher: as do seios ou a bunda. Lembre-se estou falando dessa beleza externa, do embate entre essas duas curvas, nenhum outro quesito está entrando em pauta, são só os “adversários”, como num clássico: fla vs flu, cor vs pal, gre vs int. É só seios versus bunda. Não tem como competir com a curva de um sorriso ou a curva do pescoço quando ela vira para receber um beijo, uma fungada no cangote. o embate é: Seios ou Bunda?
Seios é teoria, bunda é pratica.
Seios é a linha de frente, bunda é linha de trás.
Seios é julgar pela capa, bunda é julgar pela contracapa.
Seios é amor a primeira vista, bunda é conquista.
Seios é paixão, bunda é amor.
Seios é olhar nos olhos, bunda é olhar de canto de olho.
Seios já iniciaram guerras, bunda já terminou com as guerras.
Seios está sempre a vista, bunda vive escondida, contida.
Seios são mentirosos, da pra disfarçar, colocar sutiã com enchimento, apertar daqui, espremer dali, aumentar o decote. Bunda não, bunda é o que é, é aquilo, ela não mente, não aumenta, no máximo se arrebita, mas num descuido e ela baixa.
Posso passar o dia inteiro fazendo comparação e vou achar qualidade para os dois. Não teremos um vencedor. Acho que quando Deus criou a mulher era isso que ele queria, que admirássemos e discutíssemos tamanha perfeição. Se um dia me encontrar com ele, perguntarei: “e ai Deus... Seios ou bunda?”. Acho que ele vai responder: “os dois”, como um pai, quando questionado sobre qual filho gosta mais.
terça-feira, 5 de março de 2013
Super Mercado
Fazer
compras no super mercado não é mais uma função especifica das mulheres. Essa “guerra”
tomou proporções maiores. Não existe mais preconceito, os corredores foram
tomados pela diversidade. Os homens tiraram carteira para pilotar carrinho de
compras.
As coisas
mudaram muito, fazer as compras do mês já não é mais como antes. Antigamente
com pouco dinheiro comprava-se muita coisa, hoje com muito dinheiro compra-se
pouca.
O
mercado é uma armadilha. Você tem que entrar sabendo o que quer comprar, focado
no seu objetivo – pão, leite, ovos, carne, farinha, tomate – para não se
desviar no caminho. É como na história da Divina Comédia de Dante, se ele não
soubesse o que ele estava indo buscar, teria sido seduzido no inferno. Se você
não souber o que quer no mercado será seduzido pelas gondolas. Se você não entrar sabendo o que quer, acabara comprando o que não precisa e acaba deixando de
comprar o que realmente foi ali para comprar.
É fácil
saber quem são os experientes, eles carregam caneta e papel em mão, estão com o
melhor carrinho, as compras pesadas estão no fundo do carrinho, as frutas por
cima, eles se comunicam com os alimentam, chacoalham uma lata aqui, ouvem um
melão lá, dão tapas em carnes, interrogam ovos. Sabem que no mercado não se
brinca. Há histórias de pessoas que foram fazer compras pela primeira vez e até
hoje estão perdidos nos corredores, se for no de biscoitos ou bebidas tudo bem,
o problema é se ficar preso no corredor de limpeza, pode ser que você não dure
muito.
O que você basicamente tem que entender é que: o mercado foi projetado para que você não saiba que horas
são, não tem janelas, nem saídas, a saída é por onde você entrou, você é obrigado a passar por lá, você está num
labirinto com paredes patrocinadas. Tem relógios, sim, R$ 29,90 o mais barato, e nenhum
tem a hora certa, que é pra você não saber a quanto tempo está ali. Os celulares não tem sinal. É você e você. Nada de pedir
ajuda, principalmente para o google pra tirar qualquer duvida. Quer ajuda? Eles fornecem a
ajuda e ela vem de patins. Patins, espinhas e aparelho. Os caixas rápidos não são rápidos e esse não é o
problema, porque quando chegar lá já terá perdido a noção de tempo, o problema
é que as melhores coisas, a que mais te da vontade de comprar está perto do caixa,
então quanto mais a fila demora mais coisas que você não foi até ali para
comprar, você vai colocar no carrinho.
Minha
dica é, faça uma lista, revise essa lista, avise alguém que você está indo no
mercado, para o caso de você não voltar em 24 horas que chamem a policia mas
que só negociem se você puder sair com as compras. E principalmente vá com o
dinheiro contado. Se tiver um pouco a mais, acabara gastando.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
A fina arte de procrastinar
Estou
há quase três meses para escrever essa crônica. O tema é procrastinar. Estava
fazendo um estudo do caso, na pratica.
Procrastinar:
transferir para um momento futuro; adiar; protrair; protelar, empurrar com a
barriga, deixar para semana que vem o que eu prometi pra mim mesmo que iria
fazer hoje... e tem mais alguns outros significados, mas eu vou procurar mais
tarde.
“Pra
que fazer hoje se eu posso fazer depois do feriado”, “já é quarta, melhor
começar na segunda”, “não vou fazer agora, mas vou deixar aqui do lado, assim
eu não esqueço de fazer”, “vamos marcar alguma”, “eu vou fazer, me cobra”. Admita,
em algum momento você já usou uma dessas frases, ou todas. Procrastinar é
humano. Aliás, o ser humano é o único animal que procrastina. É da nossa
natureza. Não é o polegar opositor, ou a fala, que nos diferencia dos outros
animais, sim o poder de adiar as coisas. Você joga uma bolinha para o cachorro,
ele não pensa, depois eu pego, não preciso ir agora, a bolinha não vai sair
dali. Ele vai e pega. Você joga a bolinha para o homem, ele manda você e
buscar, afinal de contas ele não é um cachorro. Ao não ser que você seja o
patrão dele, ai ele vai buscar, depois de enrolar um tempo.
No
mundo, o brasileiro é o povo mais conhecido por deixar as coisas para a ultima
hora, essa fama já se espalhou, nos outros países comentam “e o Brasil?” “o
Brasil você sabe como é né, sempre tomando uma atitude na ultima hora, mas não
se preocupa que ele aparece”. Somos expert em protelar ao máximo, a inscrição
na bandeira nacional deveria ser: tardamos, mas não falhamos.
Liberdade
e um bom prazo é a matéria prima para procrastinar. Porque quando temos os
dois, deixamos para o ultimo minuto, só quando realmente vemos que não tem mais
jeito, ai sim tomamos uma atitude, pedimos que aumentem o prazo de entrega,
ligamos avisando que vai atrasar, prometemos para outro dia, etc.
Mas
no fundo acho que protelar não é de todo ruim. Não apressamos a coisa, apuramos
o caldo, enquanto estamos deitado cochilando, estamos estudando melhor a
situação, então quando finalmente fizermos – se lembrarmos o que era mesmo que
tinha para fazer – talvez saia melhor do que se tivéssemos feito quando
tínhamos prometido.
A mulher é a prova
disso. Deus fez o homem, ele poderia ter feito a mulher logo na sequencia, mas
ele queria dar uma relaxada, por isso deixou para depois, nesse deixar para
depois, ele analisou o que tinha de errado no homem, onde teria que melhorar,
então quando ele foi fazer a mulher, saiu muito melhor, tudo porque ele
procrastinou.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Uma hora a mais
Todo fim de ano nos é tirado uma hora, então quando estamos começando a nos acostumar com a perda, nos devolvem. Como aquela criança birrenta que o pai tira o brinquedo, por algum motivo, então quando a criança começa a esquecer, alguém devolve. Funciona mais ou menos assim o horário de verão.
Com o inicio do horário de verão adiantamos uma hora, os dias duram mais, as noites duram mais, o dia passa mais rápido. E a melhor coisa é, que você sai do trabalho ainda está claro, isso da a impressão que ainda vai dar para aproveitar o dia.
Em contrapartida com o termino voltamos o relógio uma hora, temos um dia mais longo, tudo bem que é o sábado, mas mesmo assim a uma revolta. Agora imagine como essa revolta seria maior, se o horário de verão terminasse na segunda-feira, ninguém aceitaria uma segunda com 25 horas. Acho que o termino do horário de verão é ruim, fica a sensação que o dia fica mais longo, você entra pra trabalhar está claro, você sai está noite. Então você começa a achar que não esta aproveitando a vida. Alias, trabalhar causa essa sensação. Mas trabalhar no horário convencional, só aumenta. Você não vê mais o sol, mesmo que o sol venha dando as caras ultimamente, você vai jogar a culpa no termino do horário de verão.
Acho que o certo deveria ser, 126 dias de horários convencional, e o resto do ano de horário de verão. Não ligamos para o nome “horário de verão”, sim para aquela horinha que faz toda diferença.
Ps:. Ponto positivo do termino do horário de verão: poder chegar atrasado e usar a desculpa de ter esquecido de mudar a hora. Mas essa desculpa só é valida até metade da primeira semana, depois disso soa ridícula.
Ponto negativo: ter que aguentar os chatos falando, "é uma hora, mas é como se fosse duas".
- Chefe.
- Oi?
- Tava pensando, se eu não podia sair uma hora mais cedo.
- Por quê?
- Porque fim de semana terminou o horario de verão, então ganhamos mais uma hora, ou seja estou trabalhando uma hora a mais hoje.
- Não, terminou sábado. Já recuperou essa hora, teve o domingo inteiro para recuperar.
- Não consegui, eu fiquei fazendo os relatórios que o senhor mandou, alias, só consegui terminar porque trabalhei uma hora a mais. A hora que me foi tirada.
O chefe fica olhando para ele.
- Tudo bem, pode ir uma hora mais cedo.
- Obrigado chefe.
Vai saindo, com um sorriso no rosto.
- Opa, espera ai um pouquinho.
- Oi?
- Você esta me devendo uma hora.
- Estou?
- Está!
- Qual?
- Quando começou o horário de verão, você adiantou o relógio em uma hora.
- Sim, mas...
- Então, logo trabalhou uma hora a menos. Então estamos quites. Pode voltar ao trabalho e fazer o seu horário de expediente, normal.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
A voz
Será
que os cachorros só nos entendem quando falamos com aquela voz de “idiota”. Aquela
voz que é anasalada, você fala com um sorriso no rosto, solta uns sons
estranhos no meio da frase e sempre repete a ultima sentença. Na teoria isso
soa difícil, já na pratica soa ridículo. Não importa qual sua profissão, quanto
dinheiro você tem, onde você está ou com qual pessoa, ao deparar-se com um
cachorro (ou qualquer outro bicho "fofinho"), vai parar e falar com ele usando a voz – algumas pessoas tem sotaque
nessa voz. É a mesma linguagem que usamos para falar com crianças recém-nascidas
e os casais usam no inicio do relacionamento. O que os três tem em comum? É que
nenhum dos três com quem falamos podem responder pelo seus atos, pois são “irracionais”.
A
vantagem dessa linguagem é que ela é universal. Pode você falar com qualquer
cachorro, bebe, namorada, de qualquer lugar do mundo que eles vão entender. Não
existe curso pra aprender a falar desse jeito. Aprendemos sozinho. Todo mundo é
bilíngue. Muita gente não sabe que pode falar esse “idioma”, até encontrar um
bebe fofo ou começar a namorar. Pode colocar no currículo, “idiomas: português e
voz de falar com cachorro”.
Meu único
medo a respeito de falar assim, é que se algum dia o cachorro vir a falar, ele
falar com essa voz. Ai a culpa é nossa.
-
Cade o nenenzinho da mamãe? – fala para o cachorro, usando a voz.
- To
aqui. – responde o cachorro.
-
Cade o nenenzinho da mamãe?
- To
aqui. – de novo.
-
Cade o nenenzinho?
-
Porra.
Chega
o outro cachorrinho da casa.
- O
que está acontecendo? – pergunta o recém chegado.
-
Ela ta fazendo aquilo de novo?
-
Quem é o outro nenenzinho? – Ela fica tão animada que chega a balançar o rabo.
-
Sim.
-
Como eles podem ser considerados a raça mais inteligentes?
-
Cade os nenenzinhos da mamãe?
Os
dois olham para ela.
-
Não sei.
Viram
as costas e deixam ela sozinha de quatro no chão.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Primeiro dia de aula
Hoje é dia de volta as aulas. Saudades. Não de estudar, mas sim de ir para a escola.
Quanta responsabilidade tinhamos no primeiro dia de aula. Escolher onde sentar, a escolha do lugar era fundamental, onde sentaria é o que ditaria qual seria o seu comportamento durante o ano.
Se sentasse no fundão não seria estudioso, um dos pré-requisitos para sentar no fundão era: não disposto a prestar atenção na aula e gostar de conversar; ou pelo prometer que só prestaria atenção quando a corda estivesse totalmente no pescoço, lá pelo terceiro bimestre. Já sentar na frente é mostrar para que estava ali, a maioria dos “inteligentes” e bem sucedidos que você conhece hoje sentava-se na frente. Sentar no meio era estar em cima do muro, era como dizer, estou ai, minha mãe quer que eu estude, mas se pintar uma bagunça, pode contar comigo. Não importa qual lugar você escolhia, só que a partir do momento que escolheu, aquele seria o seu lugar durante todo o ano letivo. Não tinha o seu nome na carteira, um documento, apenas estava implícito, era uma espécie de contrato invisível, mesmo se você faltasse, ninguém sentaria no seu lugar. Respeitavam. Então tinha que pensar bem, mas você só teria esse tato após o primeiro ano, então nos outros chegaria mais cedo pra garantir um bom lugar. Se pudesse com certeza teria crianças acampando em frente as escolas, como nos grandes show, ou clássicos de futebol, para garantir um bom lugar na sala.
Depois de escolhido o lugar, era esperar para saber quem sentaria a sua volta. Aquelas pessoas fariam parte da sua rotina diária, iria vê-las mais do que o seu pai. A da carteira da frente, a de trás, lado esquerdo e do lado direito. Esse seria o seu circulo. Sua rotina. Diga-me perto de quem tu sentas que eu direi quem és.
Com o tempo viria a descobrir de qual tribo faria parte. Dos nerds, dos bagunceiros, as bonitinhas, dos descolados, dos que sofriam bullying – os nerds também sofria bullying. Mas que não era nerds sofria porque era gordo, ou tinha a orelha grande, nariz grande, uma coisinha, um “defeitinho” e você poderia ser sacaneado o resto da vida. Ou se seria café com leite – que era não fazer parte de nenhuma das tribos acima. Isso era definido antes do fim do primeiro bimestre, e poderia ser mudado a cada troca de ano, já ouvi falar de casos de alunos que num ano fazia parte da tribo dos nerds, no outro estava na dos bagunceiros. Essa definição só tinha o prazo de validade de um ano letivo.
Depois de alguns anos como aluno, que já tinha passado por várias voltas as aulas, aprendia sobre tudo isso. Então sua única preocupação era: se cairia na mesma sala. Cair na mesma sala significava ter tudo definido, não precisar passar por tudo isso de em qual lugar, tribo, amigos, etc. cair na mesma sala era voltar a rotina.
- Cadê o Anderson?
- Não soube?
- Não, o quê?
- Ele mudou de escola.
- Mentira?
- Sério.
- Os pais dele fizeram isso com ele?
- Parece que mudaram o pai dele para uma filial do Rio De Janeiro.
- E não tinha nem ônibus pra ele vir todo dia?
- São oito horas de viagem.
- Qual é o problema.
- Não sei se os pais dele concordariam.
- Mas ele tinha tudo aqui. Agora vai ter que começar tudo do zero.
- É triste.
- Ainda bem que meu pai trabalha numa empresa pequena.
- Ainda bem.
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