quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

GPS

Em tempos de GPS é impossível perder-se. Hoje em dia, graças a Deus e os cientistas da Marinha Americana, não precisamos mais fazer mapas nas costas de uma folha qualquer, anotando os detalhes, fazendo desenhos para ilustrar, anotando referencias.
- Então depois de quatro lombadas eu viro a direita, passando o quarto velho à esquerda, passa nove postos de gasolina, no nono pede informação, ignora, só acredita na informação que darão no décimo primeiro, mesmo assim fico com um pé atrás. Se eu não achar quer dizer que eu estou perdido.
Não precisamos mais disso, temos todos os caminhos na palma de nossas mãos.
Diferente dos animais, o ser humano não tem senso nenhum de direção, Adão e Eva só não saíram do Paraiso porque tinham medo de se perder.
Par o homem o GPS está entre as melhores invenções – perdendo apenas para o abridor de garrafas. Homem nenhum admite que esteja perdido. Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil sem querer, ele estava indo jantar na casa do tio dele, se perdeu, acabou caindo aqui.  
- Vossa excelência tem certeza que não quer parar e pedir informação?
- Não precisa, eu só peguei o caminho mais longo porque não queria ser o primeiro a chegar.
Não precisamos mais passar por nada disso. Sabemos daqui quantos metros teremos que virar, quanto de gasolina vamos gastar, quais atalhos pegar, o caminho mais curto, onde vamos encontrar um conhecido para podermos desviar – essa ultima função ainda não existe, mas fica a dica. E uma das decisões que fez o GPS emplacar foi: colocar uma mulher dando as coordenadas. Mulher passa mais credibilidade. Ainda mais em tempos que o mundo está sendo dominado por elas. Mulher ouve mulher. Mesmo que ela não soubesse o caminho, uma segue a outra. É a união feminina. E ao colocar aquela voz sexy para dar os caminhos ganhou todos os homem. Se ela quiser pode nos levar para a china que não ligamos.
- A duzentos metros tem um vulcão.
- Ok, eu passei protetor.

Agora só falta inventarem um GPS que aponte o sentido da vida, o caminho para felicidade ou pelo menos onde fica a puta que o pariu.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mais uma tragédia


Depois de uma tragédia, como essa que aconteceu em SM, todos nós nos pegamos pensando na vida. É inevitável, assim como você pensa: “o que eu faria com todo esse dinheiro”, quando sai o premio da mega sena. Diante de uma situação dessa você pensa, “e se fosse eu naquele acidente?”.
Assim como eu, a maioria não tem nenhum parente ou amigo envolvido na tragédia, o que teoricamente nos distancia do que aconteceu.
Assim como você, eu não mudei minha rotina, vou fazer as mesmas coisas que faria se nada disso tivesse acontecido, vou acordar, trabalhar, estudar, ler, sair, discutir, etc. Enfim, meu dia a dia, assim como o da maioria, não vai mudar em nada. Mas deveria. Não mudar a rotina. Mas sim o modo de pensar e agir com as pequenas coisas, pequenas, que deveriam ser as grandes.
Eu estou valorizando a minha vida? Valorizo as pessoas a minha volta, quem eu amo e até quem eu não conheço não tratando mal ou ajudando como posso? Digo que amo a quem eu deveria dizer ou estou ocupado demais e acabo esquecendo?
O que estou querendo dizer é: Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã. Você não sai de casa preparado para uma tragédia. Não. E a prova disso é que fazemos planos futuros. Amanhã eu vou acordar fazer isso, isso e isso. Já estou vendo onde passar as férias em 2013, o que eu vou fazer no fim de semana, onde vou estar daqui a três anos, e uma  coisa que aconteça pode mudar tudo. Não estou dizendo que não devemos fazer planos, criar expectativas, que temos que deixar o barco a deriva. Mas sim que temos que equilibrar com o agora. Que demos menos valor para o ontem e o amanhã e mais valor para o hoje, o agora.
Eu sei que isso tudo soa como clichê, e é, falar sobre dar valor a vida, sobre o amor sempre soara como clichê, autoajuda, etc. e também sei que estamos fragilizados, por mais que não tenhamos contato direto com os envolvidos e que amanhã quando os jornais parar de passar sobre essa tragédia e voltar a programação normal, esqueceremos-nos disso tudo. Mas então aproveitemos que estamos frágeis para mudar um pouco que seja.
Que não precise acontecer uma tragédia para valorizarmos a vida.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Primeiro dia de academia


Vivemos na era da ditadura da beleza. O mercado de estética é um dos que mais cresce. Com ele veio junto os booms das academias. Segundo dados: para cada cinco lanchonetes fast food existe uma academia. Ou seja, você podia ter saido pra comer uma batata frita e ter acabado numa esteira.
O numero de novas academias novas que abrem são quase quanto os de igrejas. A coisa está tão séria que, corre o risco, um dia você acordar e estar no meio de um culto, ou de uma aula de spennig. Nos dois casos vai ter alguém gritando. Do jeito que as coisas estão, daqui um tempo vão abrir uma: Academia Igreja. Você conta os exercícios no terço, ou faz uma série de quinze exercícios, reza um pai nosso, mais um, outro pai nosso. Dez por cento da mensalidade vai para o dizimo. Uma hóstia feita com suplemento, é o corpo de Jesus – sarado.
As demandas pelas as academias cresceram porque foi imposto um padrão de beleza. Não sei quem foi que criou esse padrão de beleza, onde foi essa reunião, mas eu não me encaixo nele. Talvez nem o cara que criou o padrão se encaixe. Estive até pensando em organizar uma passeata pra reivindicar por algumas mudanças no tal padrão, ou pelo menos baixar um pouco o nível. Uma passeata do. M.F.E.D.MDQS: Movimento dos Feios, Estranhos, Diferentes, Meus Deus que Susto.
Mas enquanto não consigo reunir gente o suficiente para essa causa – quem quiser fazer parte favor entrar em contato no site do M.F.E.D.MDQS – entrei na academia pra ver se consigo me encaixar no padrão, nem que for pela média, ou pelo menos passar despercebido.
Passei varias vezes em frente a academia pra examinar o lugar. Ver se seria ali mesmo. Ensaiei como seria a abordagem – alias estou ensaiando há uns dez anos. Então finalmente entrei. Três vezes. Quando notei que iriam chamar a policia, abri o jogo e cochichei que estava ali porque queria fazer academia. Pediram para eu falar mais alto, ainda com o telefone na mão ameaçando chamar a policia. Repeti dessa vez alto. Quando conseguiram parar de rir, meia hora depois, me deram algumas informações. Perguntei qual era o horário o que tinha menos gente malhando, não queria atrapalhar quem realmente sabe fazer aquilo. Ele me indicou o horário da tarde, horário que só tem mulheres e senhoras de idade. Menos mal, vai ter mais gente erguendo o mesmo peso que o meu, pensei.
Já de começo achei difícil, puxado, pensei em reclamar, mas achei que não seria legal, afinal de contas ainda só estava fazendo a inscrição. Pegaria mal.
Finalmente comecei, depois de tantos anos enrolando eu estava ali, pra fazer exercícios, sem ganhar dinheiro ou nota pra fazer aquilo. Era pior do que eu imaginava. Falei pra pegarem leve porque era meu primeiro dia, tudo bem que estava precisando muito, mas que não precisavam exagerar, eles rebateram alegando que aquilo era só o alongamento. Perguntei quanto cobravam só eu quisesse fazer alongamento. Para esquecermos esse negócio de erguer peso. Agora todos estavam rindo, não só os funcionários. Menos mal. Estava me enturmando. Fiz todos os exercícios conforme a personal mandou, como qualquer homem quis impressionar a mulher que estava ao meu lado, no caso a personal, então ergui mais peso do que realmente aguentava, mas como tinha muitas outras mulheres em volta, e eu não queria ser taxado como machista, ergui menos pesos do que elas. Fiz só com a barra que, diga-se de passagem, é bem pesada. Não é fácil agradar todo mundo.
Foi o primeiro dia. Primeiro de muitos, ou de pelo menos primeiro de três meses, que foi o numero de meses que eu paguei. Já consigo notar a diferença. Não é algo gritante, mas já me sinto mais forte, ou o espelho ta mentindo porque não aguenta mais eu me olhando nele.

Esse foi um pequeno passo para o homem, um grande passo para mim. Falando passo, ta doendo minhas pernas. Acho que não vou amanhã.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sozinho


Não sei se é impressão minha, mas sempre quando vou comer sozinho, sinto que estou sendo observado, por olhos carregados de dó. Não entendo muito bem o porquê, se olhassem depois que o prato foi servido ainda faria sentido, pois eu poderia ter feito uma escolha errada e por isso ser julgado, “uma salada num restaurante fast food? que feio”, mas não é o caso, é desde o momento em que eu me sento a mesa. É um olhar de pena por eu estar sozinho. O garçom fica mais solicito, me atende com uma voz diferente, aquela voz que você faz quando encontra uma criança perdida, “um suco e um especial do dia né?! É. Não se preocupe que vai ficar tudo bem. O tio ta aqui com você, qualquer coisa é só erguer o braço, ou fazer ‘PSIU’, que o tio vem”.
Deus criou a Eva porque lhe cortava o coração ver Adão fazendo as refeições sozinho. Mas acho que que no fundo Adão preferia almoçar sozinho, porque sozinho não tinha ninguém reparando quanto ele serviu de comida, o julgando por colocar o feijão por cima, pegando a batatinha frita do prato dele.

- Adão da um pedacinho.
- Mas você não disse que não queria Eva.
- Aquela hora eu não queria.
- O garçom veio aqui, eu perguntei se você tinha certeza que não queria. Você disse que tinha.
- Ui amor, agora me deu vontade.
- Então vamos pedir outro. – ergue o braço pra chamar o garçom.
- Eu não quero outro, quero um pedaço do seu.

As pessoas não gostam que você saia sozinho, elas se preocupam com o seu bem estar. Experimente dizer que você vai ao cinema sozinho, e veja a comoção a sua volta, pessoas que você nunca viu vão parar para conversar com você, saber se está tudo bem, se precisa de alguma coisa, “gente, ele vai sozinho ao cinema” “ah, que dó!”. E é um sentimento que não faz muito sentindo, já que eu vou no cinema para assistir o filme e não para conversar.

- Onde você vai?
- No cinema.
- Com quem?
- Sozinho.
- Sozinho?
- É.
- Que ruim. 
- Por que que ruim?
- Não tem ninguém para conversar.
- Mas eu vou para assistir não para conversar.
- Não digo conversar, conversar, comentar sobre o filme.
- Se eu quisesse ouvir comentários sobre o filme eu esperava sair em DVD e comprava a versão com comentários do diretor.
- Ui, seu grosso, por isso que está indo ao cinema sozinho. – fala e sai.

Acho que no fundo as pessoas tem medo de fazer esse tipo de programa sozinho e descobrir que são chatas e não aguentam a sua própria companhia.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Meia Sem Par Anônimas.


Deve existir um lugar onde todas as coisas que somem sem explicação, como: guarda-chuvas, tampinha de caneta, palheta, etc. se reúnem. E dentre elas com certeza devem estar as meias. Porque é impressionante como elas desaparece. E é sempre uma meia. É como se ela tivesse que seguir o caminho dela. Como esses indígenas desses filmes. Quando completam uma certa idade tem que deixar a tribo. A meia quando completa um tempo de uso tem que andar com as próprias pernas. Ou no caso, sem as próprias pernas.  Num dia ela está ali, no seu pé, te aquecendo, no outro ela foi embora. Buscar o caminho dela.
E como é sempre uma que some, a outra fica. Sozinha. Esquecida. Não tem mais utilidade. Assim como existe um lugar onde essa aventureira solitária vai, deve existir um outro lugar onde essa que ficou frequenta. É esse mundo paralelo onde o pé que ficou vai procurar ajuda pra superar o abandono, o M.S.P.A = Meia Sem Par Anônimas.

Reunião do M.S.P.A
- Eu não sei o que aconteceu. Nós estávamos juntos, estávamos bem, tínhamos ido passear um dia antes, fomos ao shopping, comemos, fomos no cinema, até vimos algumas casas novas, bonitas, confortáveis. Curtimos o dia inteiro. Então de noite o Pablo nos tirou e jogou um em cada canto, como sempre fazia. Depois a mãe dele veio recolher roupas que estavam espalhadas pelo quarto – como sempre reclamou dele deixar as roupas espalhadas pelo quarto – pegou tudo e levou para lavanderia, nós fomos também, novamente juntos, mas ele já estava diferente, perguntei se estava tudo bem?, ele falou que sim, que só precisava descansar. Eu respeitei. No outro dia cedo a Fatima, diarista da casa, nos levou pra tomar banho. Entramos juntos na maquina. Mas ele ficou distante, juntos com as outras meias, as soquetes, foi a ultima vez que eu o vi. No varal já estávamos separados. Me colocaram com o Paulo e a Andressa. Choveu. Ficamos bastante tempo lá e nada dele dar as caras. Quando nos tiraram do varal e levaram para atrás da geladeira achei que o encontraria por lá, mas não. Nem sinal. Fui para gaveta e fiquei solta lá. Cada vez que abriam acendia uma chama de esperança no meu peito, imaginava ele chegando, pra finalmente matar a saudades e nos enrolar novamente. Nunca era ele. Foram chegando meias novas, novos casais e eu ali, sozinha, solta no meio de tantos pares, deslocada. Vez ou outra aparecia mais alguém sozinho. Um dia o Pablo até tentou armar um encontro pra mim com um desses pares soltos, mas não deu. Não rolou química. Não combinamos. O tempo passou e nada dele voltar. Então fim do ano na época de dar uma geral nas coisas eu fui despejada. Atirada nessa sacola de meias sem par. Até hoje ainda sinto saudades dele, afinal ele era minha alma gêmea. Tinhamos sido feitos um para o outro e onde quer que ele esteja tenho certeza que ele também esta pensando em mim. Mas eu vou seguindo assim, um passo de cada vez, no caso sempre o passo direito, já que ele era o esquerdo. – ela começa a chorar, as outras meias vem para acalma-la.

- Muito obrigado pelo testemunho. Por dividir isso com a gente.
Silencio.
- Quem vai agora?
A cueca sem elastico levanta.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Femen (nismo)


Que as mulheres estão cada vez mais no comando, não é nenhuma novidade. Alias é justo. Elas lutaram por isso, galgaram o espaço delas, queimaram sutiãs para isso. Porém algumas feministas estão confundido as coisas, estão fazendo isso da maneira errada. Devem pensar: “se as nossas musas, queimaram os sutiãs e conseguiram tudo isso, que tal se nós pulássemos a parte de queimar os sutiãs e já sair direto com os seios de fora?!”.
Não sou contra protestos, pelo contrario, acho que tem que protestar mesmo, brigar pelo que é de direito, bater de frente, questionar, qualquer tipo de conflito que seja de direito tem que ser exercido. Não ficar só atrás do computador compartilhando imagens, em frente a TV reclamando com a boca cheia de comida, tem que participar ativamente. Mas tem que fazer a coisa direito. Sair por ai mostrando os seios não adianta nada, se adiantasse nas tribos indígenas não seria um homem o pajé, mas sim uma mulher.


No restaurante, os dois acabam de jantar, depois de saírem juntos pela primeira vez. Ele faz sinal para o garçom trazer a conta, olha para ela, sorri. O garçom chega com a conta. Entrega a caderneta possivelmente com a conta dentro para ele. Que leva a mão ao bolso pra sacar a carteira. Ela segura o braço dele e puxa a caderneta.
- Deixa que eu pago.
- Oi?
- Deixa que eu pago. – abre a bolsa para procurar a carteira.
- Não. Que isso. – puxa a conta para ele.
Tenta sem sucesso tirar a carteira do bolso.
- Deixa eu pagar. – ela pega de novo.
- Não. eu faço questão. – ele pega.
- Mas eu quero pagar. – Está com ela novamente.
- Na próxima você paga. – De volta com ele.
- Se você não deixar eu pagar agora, não vai haver próxima.
Ele sorri, ela fica séria, o garçom fica sem entender. A caderneta fica no meio com os dois segurando como se fosse um cabo de força.
- Mas é a primeira vez que estamos saindo juntos. Não posso deixar.
Ela fica séria.
- Que tal se vocês dividissem? – sugere o garçom.
- Boa.
- Não se intromete. Me da essa conta.
Ele não solta.
- Você não vai me deixar pagar?
- Não. Não foi assim que eu fui criado. Fui ensinado que um homem sempre tem que pagar a conta no primeiro encontro. – fala a puxa
Todos os clientes presentes param de comer e começam a prestar atenção na discussão.
- Isso mesmo meu filho.
- Você foi criado como um machista, isso sim. Você quer ser o macho alfa. Quer ser superior, mas saiba que não é. O homem não é superior. Nós estamos provando isso, conquistando todos os espaços de vocês, provando que somos capazes de fazer qualquer coisa que você fazem, somos até melhores.

- Isso mesmo!
A mulher da mesa a direita deles levanta e comemora.
- você vai pagar a conta? – pergunta o homem que está junto.
Ela senta.

O gerente vem para saber o que está acontecendo.
- Posso ajudar?
- Mais um homem achando que pode resolver tudo.
- Ela quer pagar a conta. Ele quer pagar a conta.
- Por que não dividem?
- Hum, gênio! Se fosse pra eu pagar a minha eu tinha ido jantar sozinha.
- Não, mas agora quem não quer dividir sou eu.
O escândalo aumenta, os dois continuam no cabo de guerra, já derrubaram os copos que estavam em cima da mesa, os clientes começam a ficar incomodados, os que estava na fila de espera começam a se retirar.
- Então deixa que eu pago. Você não vai me comprar pagando a conta.
- Mas eu nem quero te comprar mesmo. E se tivesse comprado ia querer trocar.
- Sabia que você era assim. Acha que a mulher é um objeto, que pode trocar a qualquer hora. Típico do machista de hoje em dia.
O gerente intercede.
- Faz o seguinte. Fica por conta da casa. Vocês podem ir.
- Não, já falei que não quero um homem pagando nada para mim.
- Vai morrer sozinha!
- A dona do estabelecimento é uma mulher. – fala o gerente torcendo para que ele parem.
- Tem certeza?
- Sim, juro!
- Então eu faço questão de pagar.
- É uma mulher e um homem. – improvisa. – são sócios.
Os dois se olham. Soltam a caderneta em cima da mesa. Saem. Sem se falar. Na porta se separam, vai cada um para um lado.

O casal da mesa ao lado se olha. Pede a conta. O garçom prontamente tras. O cara segura, olha, ergue um pouco a bunda pra tirar a carteira do bolso de trás, a mulher segura o braço dele.
- Deixa que eu pago.
- Não, deixa que eu pago.
- O gerente não vai mais liberar a conta de ninguém e vocês dois não é primeira que saem juntos, já atendi vocês umas três vezes.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Amigo imaginario


Quando criança era normal você ter um amigo imaginário. Toda criança tinha. Ele era o amigo perfeito. Estava sempre ao seu lado. Nunca te deixava na mão, te ouvia, sempre concordava, nunca discutia, nem queria aparecer mais do que você. Mas conforme você foi crescendo foi deixando ele de lado pra ficar com amigos reais. Já não conversava mais com ele, não brincava, não procurava mais. Desfazia-se dele em frente aos de carne e osso. Começou a agir como se ele não existisse. Agora não era mais você quem falava sozinho, era ele, tentando se comunicar com você, que não tinha tempo, pois estava crescendo ou apenas porque não queria se passar por louco falando com alguém que não poderia nem responder, não aparecia em fotos ou vídeo como os outros amigos. Então o tempo passou e ele ficou pra trás, como muitas amizades, afinal de contas na vida é assim, cada fase você tem um circulo de amizades. Na escola tem aqueles amigos inseparáveis, aquela rodinha que passa cola, lancha, faz trabalho, bagunça, etc. depois vai para faculdade  então arruma outros, começa a trabalhar e lá cria-se um novo circulo, termina a faculdade, muda de emprego vem novos amigos, casa-se e conhece os amigos da sua conjugue, soma os seus amigos com os dela, diminui os que não tem são casal e fica só com os pares – casados só tem amigos casados. Separa-se, dividem-se os amigos, vai ficando velho começa a voltar a procurar os amigos que já passaram, já que quanto mais velho você fica mais difícil é de se fazer novas amizades. Então quando percebe que não tem mais tantos amigos, os nichos de amizade esta escassa é cada vez mais raro arrumar um amigo, começa a sentir falta daquele amigo imaginário, como seria bom se ele estivesse ali para ouvir nossos lamentos e reclamações, ele escutaria tudinho, apoiaria, não julgaria. Mas deixamo-lo de lado lá atrás, com medo do que as pessoas falariam se te visse com ele – ou melhor, não te vissem. E agora é tarde porque quem não quer mais ser visto ao seu lado é ele.

Eles estão no quarto jogando vídeo game, quando Mica aperta o pause e se vira sério para o amigo.
- Cara, tenho que te falar uma coisa.
- Agora que eu ia fazer o gol?
Mica fica em silencio.
- Ta bom se é tão importante assim, manda ae.
- Não podemos mais ser amigos.
- Oi?
- Não podemos mais ser amigos, andar juntos...
- Por quê? Foi alguma coisa que eu fiz, que eu não fiz, que eu deixei de fazer. Desculpa cara.
- Não, não é isso.
- O que é então? Não faz isso comigo, você é o único que fala comigo. Eu não sei o que é, mas eu vou mudar. Prometo. Só falar. Eu mudo na hora. É meu cabelo né? Sabia que não ia gostar do novo penteado.
- Não, não é isso. Seu cabelo é até maneiro. Só que não da mais.
- Obrigado. Então o que é?
- É que eu acho que está na hora de eu ter um amigo de verdade.
- Mas eu sou seu amigo de verdade.
- Não, eu to falando, de verdade, verdade.
Silencio.
- O que eu to querendo dizer é, um amigo real. De carne e osso. Que aparece nas fotos. Que tenha amigos em comum.
- Mas e todo esse tempo que passamos juntos.
- Foi muito bom. Você sempre foi um grande amigo, mas ta na hora de eu crescer.
Silencio.
- É difícil pra mim também. Mas tem que ser assim. Minha mãe já tava querendo me levar num psiquiatra.
- Michael, ta falando sozinho de novo? – grita a mãe de algum outro cômodo da casa.
- To falando com o vídeo game mãe.
Olha para o amigo imaginário.
- Viu!
Silencio.
- Então é isso?
- Acho que sim.
Silencio.
- Podemos pelo menos terminar a partida.
Ele balança a cabeça, dizendo que sim, o movimento faz escorrer uma lagrima.

Ps:. Saudades do meu amigo imaginário, ele anda desaparecido. Se virem ele por ai, diga que eu mandei um abraço.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Crise dos 16 e meio


O casamento passava pela crise dos 16 e meio, a mais perigosa, era o que uma amiga tinha falado. A que derrubou muitos casais. Acabou com o relacionamento de vários conhecidos. Já vinham notando que a muito a relação havia caído na monotonia. Não faziam mais os deveres de casal. Parecia que nada mais tinha graça. O tradicional “papai e mamãe” já tinha virado “vovô e vovó”, o “frango assado” já não tinha o mesmo gosto, comer frango sempre enjoa, e o “cachorrinho” estava nas ultimas.
Tentaram de tudo pra apimentar a relação. Experimentaram assistir filmes pornográficos juntos, não foi uma boa ideia, ela fazia muitas perguntas:

- Por que ela chamou um mecânico pra trocar um pneu e ao invés de pagar em dinheiro esta pagando com sexo? Por que o entregador de pizza tava sem camisa? Como ela consegue limpar a casa com uma roupa tão curta e de salto?

Tentaram fantasias sexuais. Mas depois de tanto tempo casado ver sua mulher vestida de enfermeira, soou mais cômico do que erótico. Assim como ele vestido de policial, ficou parecendo um desses de filmes americanos que vive com uma caixa de rosquinha. E como é sabido “o riso é inimigo do erotismo”, então não teve clima. Pelo menos engraçado foi.
Tentaram o “kama-sutra” que terminou só em CAMA. Depois de ele dar mau jeito nas costas quando tentavam fazer “a posição da égua”.
Um dia ela trouxe uns “brinquedinhos” apresentados por uma amiga, pra fazer uam surpresa, ele tomou um susto e jogou o pênis gigante no corredor, que foi recolhido pela filha mais nova, a de 4 anos, deu o maior trabalho para conseguir tirar dela, tiveram que retirar o consolo da menina enquanto ela estava dormindo, a mulher ergueu o travesseiro, ele retirou o Dildo GG.

Então depois de tentarem de um tudo, ele teve uma ideia. Os dois estavam na cama, ela já não prestava tanto atenção na televisão, já que acabara a novela, ele aproveitou:

- Eu tava pensando e se a gente...
- Ah não, eu cansei.
- Oi.
- To cansada disso.
- Mas não podemos parar de tentar.
- Mas eu já estou cansada de tentar.
- É o nosso casamento.
Silencio.
- Vamos tentar uma ultima coisa.
- O quê?
- Ménage.
- Oi?
- Temos que tentar. É pelo nosso casamento.
- Tá, mas e depois se funciona? Sempre que quisermos fazer temos que ligar para alguém.
- Não, mas vai ser só dessa vez, para reacender. É só a faísca. Só precisamos dessa fagulha.
- Será?
- Acho que devíamos tentar, pode ser nossa ultima chance.

Silencio. Ela fica pensativa.

- Ta bom, mas eu escolho qual amigo seu.
- Amigo meu?
- É. Ou prefere um desconhecido.
- Na verdade eu estava pensando em mais uma mulher.
- Ah, espertão. Quer a faísca. A fagulha. Mas não quer esfregar os pauzinhos.
- É, pensando bem não foi uma boa idéia.

O dois ficam em silencio. Pensativos.

- E se fossemos numa casa de swing.
- Casa de Swing?
- É, assim só teria desconhecidos, você ficaria com outro e eu com outra.
- Será?

Ele olhou pra ela com cara de quem tinha achado a solução. Então na noite seguinte estavam dentro do carro, se dirigindo a tal casa, que um casal de amigos havia comentado.
Na porta de entrada os dois deram as mãos.

- E se encontrarmos alguém conhecido?
- Fingimos que entramos por engano.
- E se já estivermos pelado.
- Fingimos que nos esquecemos de trocar de colocar a roupa.

Ela só da uma olhada para ele.
Entram. Ficam num canto, meio deslocados. Como se estivessem num churrasco onde não conhecessem ninguém. Num churrasco onde o prato principal não é a carne. É o conjugue.

- Quais são as regras?
- Como assim regras?
- Tem que ter algumas regras.
- Numa suruba?
- Pera aí, não é suruba. É swing.
- Qual é a diferença Rodolfo.
- Suruba é de pobre.

Silencio. Sorriem para um casal de veteranos peladões que passam na frente deles.

- Tem que ter alguma regra.
- Acho que não tem.
- Tem que ter. Até uma orgia tem que ser organizada.
- Regras tipo?
- Não pode colocar o dedo no buraco sem antes avisar. Só pega na minha mulher se eu der o consentimento. Tomamos banho antes de fazer o serviço.
- Tomar banho? Você já não tomou banho em casa?
- Sim, mas eu não sei se eles tomaram.

Passa mais um casal. Dessa vez para.

- E aí? – pergunta o homem.
- Só estamos dando uma olhadinha.

Ele tenta levar a Rosangela, Rodolfo não deixa.

- Rodolfo não foi você quem deu a ideia de virmos aqui?
- Sim.
- Então.
- Mas é que eu achei que tivesse alguma regra. Assim, solto não dá. Vamos embora. Vou ver se acho algum estatuto sobre isso. Quando achar voltamos.
- Mas e até lá?
- Até lá vamos levando. Ninguém nunca morreu de ficar sem sexo. Adão e Eva ficaram tanto tempo no paraíso sem fazer nada. Não somos melhores do que eles.

Fala e puxa ela pra fora.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Diário/Mensário anual de promessa


No dia 31 de dezembro, enquanto andava pela rua um caderno vindo do céu me atingiu a cabeça. Não sei de onde veio, mas doeu. Então depois que me recuperei da dor (e parei de xingar), comecei a folhear o caderno e percebi que não era um caderno qualquer, era um diário, mas não um desses diários convencionais, esse era diferente, primeiro porque era atualizado mensalmente. Segundo porque era uma espécie de diário de promessas. Segue abaixo trechos:

Diário/mensário anual de promessas.
1º de Janeiro
Querido diario, posso te chamar assim ou vai soar muito infantil? Vou chamar assim, é bom criar uma intimidade, afinal de contas você vai me acompanhar o ano inteiro. Então seja bem vindo a minha vida. Vamos lá, querido diário, sem bem que eu não vou escrever todos os dias, vou escrever uma vez por mês e vai ser um balanço anual, então seria anuário, mas como vou escrever mensalmente, então seria mensário? Existe mensário? Será que eu inventei um termo? Nossa o ano começou bem. Bem que meu horoscopo falou que ia ser um ano criativo. Ta vamos lá, querido diário/mesário anual de promesas, estou descrevendo aqui algumas promessas que eu quero cumprir esse ano, todo ano é igual, faço promessas e acabo nunca cumprindo, mas agora com você aqui pra me ajudar finalmente vai ser diferente. Segue abaixo a lista com algumas das promessas:
Parar de fumar
Emagrecer
Me alimentar direito
Fazer academia
Ler mais
Subir de cargo
Estudar mais
Arrumar um namorado
Ir morar sozinha
Tirar a carta de motorista
Comprar um carro
Juntar dinheiro para fazer uma viagem legal no fim do ano.

Tem mais algumas, mas essas são extras, então não vou discriminar, mas conforme for acontecendo eu vou te falando. Desde já muito obrigado pela ajuda. Só assim pra eu cumprir todas as promessas. Dessa vez vou cumprir. Tenho a impressão que esse vai ser um bom ano. Vemos-nos fim do primeiro mês.
Mês: Janeiro
Querido diário/mensário o primeiro mês começou bem, tudo está indo conforme o planejado.
Já estou a 29 dias sem fumar. Até agora esta tranquilo, não senti falta não. achei que seria mais difícil.
Estou na terceira semana de academia, perdi um quilo e meio, acredita? Já estou sentindo a diferença. Estou me alimentando direito. Me matriculei no inglês. Comecei a ler um livro maravilhoso e já estou vendo o negócio pra começar a tirar a carta. Se continuar nesse ritmo antes do fim do ano já cumpri tudo (risos). O que eu disse sobre ser um ano bom.

Mês: Fevereiro
Querido diário/mensário chegamos ao fim do segundo mês e tudo continua dando certo conforme o planejado.
Estou a quase 60 dias sem fumar. Esse segundo mês foi um pouco mais difícil, parece que todo mundo que eu conheço fuma. Mas to me esforçando.
Tenho ido menos a academia porque teve o carnaval e tal, mas não se preocupe porque eu não vou parar, até porque paguei o semestre, não quero perder dinheiro, quero perder peso (risos). Alias, perdi mais três quilos, deu até pra eu pular o carnaval com uma fantasia de cinco anos atrás.
Lembra que falei que queria estudar mais? Então, comecei a fazer inglês. É mais difícil do que eu imaginava, mas eu vou aprender, até o fim do ano vou escrever pra você em inglês, você sabe ler em inglês? (risos).
Meu chefe tem me observado no trabalho, pode estar pintando coisa boa. Mês que vem vou começar a tirar a carta. Agora vou ir terminar de ler o livro, pra começar o outro. Tchau, até mês que vem. O bom ano continua.

Mês: Março
Querido diário/mensário lá se foi março. E eu continuo na lida. É muito bom poder contar com você. É bom ter alguém que me escuta, quer dizer me lê (risos).
Já estou a 88 dias sem fumar, comecei a fumar aquele cigarro eletrônico, pra suprir a falta do normal, mas não me acostumei, parece que eu to tragando um pen drive.
Comecei a fazer auto escola, semana que vem tem o psicotécnico. Estou confiante. Nunca ouvi falar de ninguém que tenha reprovado nesse teste.
To começando a aprender algumas coisas em inglês, é difícil, parece que é outra língua (risos). Ah, to fazendo academia ainda. Faltei algumas vezes? Faltei, mas vou sempre que posso. Não perdi nenhum quilo esse mês, mas também não ganhei. Meu chefe ainda não veio falar comigo, mas continua me observando. Coisas boas vem por ai. Eita ano bom.

Mês: Abril
Querido diário/mensário acabou o mês quatro e estamos juntos ainda. Já é o relacionamento mais longo que eu já tive (risos).
Estou a quase 120 dias sem fumar, ativamente, porque passivamente as vezes dou uma fumada, fico perto de quem fuma pra sentir o cheiro da fumaça. Assustei algumas pessoas sugando a fumaça deles, mas é a falta.
Reprovei no exame psicotécnico, duas vezes, mas na terceira consegui passar. Reprovei porque eles estavam me perseguindo com aquele negocio de fazer pauzinho, o que tem a ver fazer palitinho numa folha com dirigir, a faça-me o favor. Amanhã faço a prova teórica. Essa eu vou passar de primeira, não cai Pauzinhos (risos).
Lembra que eu tava faltando bastante na academia, então, agora voltei com tudo. To indo sempre. Ainda mais depois da pascoa (risos). Arrumei até um namoradinho lá.
Agora vou indo, tenho que ir para o inglês. Until next month (risos).

Mês: Março
Querido diario/mensário quase metade do ano. Até que as coisas estão indo.
Quase 150 dias sem fumar... cigarros. Maconha não conta né?. Tive que substituir. Não aguentava mais ficar sem fumar, então como tinha prometido não fumar cigarros, comecei a fumar maconha pra suprir a falta. E vou te dizer uma coisa, é bom hein. Muito mais saudável. Não fede como cigarro. E te deixa tão alegre (risos). Se eu usar uma folha sua pra enrolar um você vai ficar bravo? (risos).
Então reprovei no exame teórico aquela vez e depois mais três, acredita nisso? (risos). Mas amanhã eu vou passar. Eu tenho que passar. Não é possível, a prova é muito fácil, mas é que eu fico nervosa na hora (risos). Acho que eu vou fumar um antes de ir. Isso, vou fumar. Muito obrigado pela dica (risos).
Lembra os quilinhos que eu perdi no começo do ano? Então, recuperei eles. Maconha da fome. Mas não se preocupe que eu vou perder de novo, assim que eu voltar a fazer academia (risos).
Estou vendo um apartamento pra alugar. Quero morar sozinha. Não aguento ficar fumando maconha escondida (risos). Eu tinha mais coisa pra falar, mas não lembro, assim que for lembrando anoto e falo mês que vem. Muito obrigado pela atenção, você é um gentleman (risos). Ah lembrei, era do inglês, também to falando muito melhor inglês depois que eu comecei a fumar maconha (risos).
O chefe ainda não veio falar comigo, acho que ele está precisando fumar maconha pra se soltar (risos).

Mês: Abril
Querido diario/mensário tudo bem com você? Comigo não. Reprovei mais três vezes no exame teórico, fui expulsa do inglês. Tranquei a academia, é muito chato, todo mundo é muito forte lá, não sei porque fazem academia. Meu namoradinho me largou porque eu fumo maconha. Minha mãe também descobriu e está pegando no meu pé. Tentei argumentar falando que parei de fumar cigarro, que é muito pior, não adiantou. A proposito parei de contar quantos dias sem cigarro, não gosto mais de cigarro. Não sei porque já fumei cigarro, aquela coisa fede.
Estou a 10 dias sem fumar maconha.
Esse mês não foi um mês bom, tenho comido muito e mal, por isso engordei mais dois quilos.
Espero que mês que vem as coisas melhorem.
Vou parar de escrever porque meu chefe ainda está me olhando.

Mês: junho
Querido diario/mensário tenho uma noticia boa e uma ruim, a boa é que eu consegui passar no exame teórico, a ruim é que eu reprovei duas vezes no pratico.
Não sinto mais falta do cigarro, porém de maconha, muito. Não consigo esquecer dela. Se eu fumasse um talvez esqueceria.
Paguei mais seis meses de academia, dessa vez eu não paro. Tenho que perder os 10 quilos que ganhei.
Vou voltar para o inglês.
Comecei a ver uns pacotes de fim de ano. Natal já ta ai (risos).

Mês: Julho
Querido diario/mensário você ainda está aqui? Porque as outras pessoas me abandonaram. Acho que estou no meu inferno astral.
Continuo reprovando no pratico, é sempre na baliza, se não tivesse a baliza eu ia me dar bem na rua.
Meu chefe deu em cima de mim, isso quer dizer que: a) a academia ta fazendo efeito (o que não faria sentido já que eu não tenho ido); b) ele é um tarado que não liga para o meu potencial, só queria me pegar e por isso não parava de me olhar.
Uma maconha agora cairia muito bem. Onde será que a minha mãe escondeu?
Vou ir procurar. Tchau, espero que mês que vem as coisas melhorem.

Mês: Agosto
Ei cara. Não sei como você ainda me escuta, sou um fracasso.
Voltei a fumar. Estou a 2 horas sem fumar. Tive que parar com a academia, não tenho folego. Era isso ou parar de fumar. Na verdade nunca gostei de academia. Estou tendo um caso com o meu chefe. Mudei do inglês para o espanhol, espanhol eu já sei falar algumas coisas, ablar uno poco, e entendo quase tudo falam. Nunca gostei de inglês, também.
Reprovei mais três vezes no teste pratico. Já posso pedir musica no fantástico.

Mês: Setembro
To dirigindo sem carteira
Meu chefe me mandou embora. Eu to processando ele por assédio sexual.
Voltei a fumar maconha. Mas não parei de fumar cigarro. To fumando os dois sim, e dai?
Engordei mas 7 quilos.
Finalmente vou morar sozinha. Minha mãe me expulsou de casa porque eu cheguei bêbada e joguei o gato dela pela janela. Ele que me pediu. Disse que queria se matar, mas não tinha coragem. Falei pra ela ficar calma, disse: “que tal fumarmos um pra relaxar?”.

Mês: Outubro
O que você está fazendo aqui ainda cara? Você é um chato. Vai cuidar da sua vida.
Mês: Novembro
Esse ano não vai acabar não? Pelo amor de Deus.

Mês: Dezembro
Querido diario/mensário tudo bem? Desculpa pela forma que te tratei nos últimos meses, tava difícil pra mim. Como você anda? Eu agora estou bem, perdi um pouco o controle sobre as coisas, mas agora estão se ajeitando, voltei a falar com a minha mãe. Parei de fumar maconha, continuo fumando cigarro. To ficando com um cara lá do AA, pelo menos o namorado eu arrumei (risos). Desisti de tirar a carteira. Nunca gostei de dirigir mesmo.
Foi um ano conturbado, não cumpri nada do que tinha prometido, mas afinal quem cumpre? Pelo menos esse ano está acabando. Ano que vem ta ai, ano novo, vida nova. Próximo ano vai ser tudo diferente. Vou cumprir tudo. Muito obrigado por estar comigo esse ano que passou. Espero poder contar com você ano que vem. Pera ai? Onde você está indo? Não, fica... fica...